Xícara de Café
- 12 de jul.
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Ela está aqui outra vez. Sobre a mesa, ao lado do caderno aberto, como se sempre soubesse a hora exata de chegar. A xícara. Minha eterna cúmplice.
O café não é só bebida — é pretexto. Pra pensar, pra lembrar. Às vezes, até pra esquecer.
Lembro de uma noite em que a chuva veio sem aviso e eu, já cansado de tanto mundo, me sentei na varanda. O céu chorava o que talvez fosse meu. A xícara ali, entre os dedos, segurando mais que líquido quente — segurando a vontade de continuar.
Ao meu lado, uma cadeira vazia. Mas eu sentia a presença dela. Daquele riso que ainda ecoa quando o café borbulha. De uma conversa que se perdeu no tempo, mas que reaparece sempre que o aroma se espalha pela casa.
Ela viu tudo, essa pequena xícara: mãos que já não seguram mais, palavras que não foram ditas, abraços interrompidos pela pressa dos dias. E ainda assim, permanece. Firme, quente, solidária.
Às vezes penso: quando eu me for, ela ficará. Talvez esquecida num armário ou quebrada por acidente — mas carregando, entre as paredes de porcelana, a minha história não contada.
Para quem ainda aquece a alma com o que ficou na borda da xícara. — C.R.




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