A Chave que Nunca Voltou a Ser Usada

Fica dentro da gaveta — junto a elásticos, moedas antigas e recibos sem valor. Pequena, riscada, sem nome. Mas você sabe exatamente qual porta ela um dia abriu.

Foi casa, foi abrigo, foi começo. Essa chave já girou em fechaduras que guardaram risos e silêncios; já esteve no bolso em tardes de sol e chuva, já caiu no chão de raiva ou distração.

Hoje, sem uso, ela ainda pesa. Não pela função — mas pelo tempo que representa. Tem coisa que não precisa abrir mais nada, mas continua fechando o peito cada vez que é tocada.  “Algumas portas ficam para sempre dentro da gente.”